Comentário

<i>Cúmplices</i>

Pedro Guerreiro
Perante a barbárie que se abateu sobre o povo palestiniano na Faixa de Gaza, de forma chocante, a União Europeia (UE) reafirma o seu branqueamento e a sua cumplicidade, de facto, com a política colonialista israelita, que martiriza o povo palestiniano e viola sistematicamente o direito internacional.
A UE não tem uma palavra de condenação da brutal e criminosa agressão israelita – que pela sua envergadura há muito estaria a ser preparada –, que se insere na estratégia de esmagamento da legítima resistência do povo palestiniano à ocupação, de destruição da Autoridade Palestiniana e das infra-estruturas que dão resposta às necessidades mais básicas das populações. Uma estratégia que procura perpetuar a ocupação israelita e inviabilizar as condições necessárias para a criação de um Estado palestiniano, soberano, independente e viável – a construção do vergonhoso muro de segregação comprova-o.
Recordemos que após as últimas eleições palestinianas, em 2006, Israel, os EUA e a UE, desde o primeiro momento e de forma sistemática, boicotaram activamente as tentativas de entendimento entre os palestinianos e colocaram em causa a ajuda financeira à Autoridade Palestiniana, dificultando a resposta às necessidades mais básicas das populações – o que representa uma autêntica punição.
Recordemos que Israel impôs um desumano bloqueio à Faixa de Gaza, criando, como há muito foi denunciado por responsáveis da ONU, uma gigantesca prisão para a população palestiniana, privando-a dos mais elementares direitos humanos.

Deplorável cinismo

É neste quadro de alinhamento com os EUA e Israel, que a União Europeia decidiu, em Dezembro passado, (1) «reafirmar a sua determinação no reforço do nível e da intensidade das suas relações bilaterais com Israel, no contexto da adopção de um novo instrumento que substituirá o actual Plano de Acção a partir de Abril de 2009».
Nas dez «linhas directrizes» (2) onde a UE define o que pretende com o «reforço das estruturas de diálogo político com Israel» aponta-se: incrementar cimeiras bilaterais a todos os níveis; «abrir mais frequentemente a Israel o Comité Político e de Segurança da UE»; «facilitar a audição de peritos israelitas pelos grupos e comités do Conselho» da UE; «sistematizar e alargar as consultas estratégicas informais»; «encorajar o alinhamento de Israel com a Política Estrangeira e de Segurança Comum» da UE; «permitir a cooperação no terreno em matéria de Política Europeia de Segurança e Defesa» da UE; e «encorajar a inserção e implicação de Israel em instituições multilaterais», como a ONU.
É esta decisão e processo que o embaixador de Israel junto da UE considera não estarem em causa, afirmando que «as posições de Israel e da UE são actualmente convergentes».(3)
O conteúdo do anunciado reforço das relações com Israel revela que a propalada retórica da UE sobre os direitos humanos, afinal não passa de um mero exercício de hipocrisia e cinismo, instrumentalizando-os em função dos interesses políticos, económicos e estratégicos das grandes potências.
A UE, sempre tão expedita a invocar os direitos humanos, logo os «esquece» relativamente a Israel, que coloniza há mais de 40 anos os territórios palestinianos da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de Jerusalém Leste, assassinando, detendo, oprimindo e reprimindo, espoliando, explorando, negando os mais legítimos direitos e impondo as mais ignóbeis humilhações e desumanas condições de vida ao povo palestiniano.

Solidariedade com a Palestina!

Face ao apoio dos EUA à conivência cúmplice da UE e à sistemática manipulação mediática com que somos confrontados – que é parte integrante da actual agressão israelita, e que tem como objectivo encobrir o seu terrorismo de Estado –, é premente a denúncia dos hediondos crimes perpetrados pelo exército israelita e a firme solidariedade para com a corajosa luta e o martirizado povo palestiniano.
É necessário exigir o fim da agressão e assegurar a urgente ajuda humanitária ao povo palestiniano; reafirmar a exigência do respeito do direito internacional e das resoluções da ONU; do fim da ocupação, do desenvolvimento dos colonatos, do muro, dos assassinatos, das detenções e a libertação dos prisioneiros, incluindo crianças, por parte de Israel.
É necessário reafirmar a exigência de uma paz justa e duradoura, que só será possível pelo respeito do direito inalienável do povo palestiniano ao seu próprio Estado independente e soberano, respeitando as fronteiras de 1967, com Jerusalém Leste como capital.
A solidariedade para com o povo palestiniano passa ainda pelo reforço em Portugal do PCP e da CDU, as forças que mais consequentemente defendem o programa patriótico, internacionalista e de paz para Portugal inscrito no artigo 7.° da Constituição da República Portuguesa!

(1) Conselho de Assuntos Gerais e Relações Exteriores, de 8 e 9 de Dezembro de 2008.
(2) Anexo 16897/08 referente a esta decisão.
(3) EUOBSERVER, 7.1.2009.


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